Arquivo A7x – Os primeiros 18 meses sem The Rev: juntar os cacos e voltar à briga

Em publicação de julho de 2011, a revista Kerrang! divulgou uma entrevista com M. Shadows, Zacky Vengeance, Synyster Gates e Johnny Christ sobre os primeiros 18 meses sem o baterista The Rev. Confira na íntegra.

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Duas filas de trânsito se arrastam lentamente ao longo da auto-estrada Tom Landry, na sonolenta cidade de Grand Prairie, Texas. Na direita, fileiras de rostos animados saem de carcaças e SUVs enquanto eles fazem seus caminhos ao redor do Norte da Belt Line, em direção ao Teatro Verizon. Na esquerda, escuridão, como se aqueles que chegaram cedo retornassem para casa tendo apenas ouvido a notícia de que o show daquela noite estava cancelado.

Estava tudo arrumado para o show de encerramento que seria do Avenged Sevenfold – dia da turnê Welcome to The Family, mas o líder M.Shadows teve um problema de garganta e mal podia falar, que dirá cantar. Nem todos parecem estar sombrios. Do lado de fora da entrada da produção, nos fundos do local, membros da banda Bullet for My Valentine estão dando para a tour uma despedida apropriada e fazendo o máximo de sua inesperada noite.

Em uma cena similar ao infame documentário Heavy Metal Parking Lot, de 1986, eles estavam tipo AC/DC, devorando cervejas geladas e dando o pontapé inicial ao que parecia uma festa, dentro, porém, o humor era mais obscuro. Para Shadows esta turnê acabaria em choradeira. Sua voz tinha reduzido a pouco mais do que um leve e sussurrado grasnido – correr feito loucos para cumprir outra agenda não era uma opção. Há teorias por trás de seus problemas na laringe: o cantor suspeita que seus problemas de garganta sejam uma reação alérgica por tocar no Alamodome de San Antonio, na noite anterior, apenas um dia depois do Professional Bull Riders estar na cidade. Enquanto ele dá passos largos pela área dos bastidores, usando seu Aviador de lentes em tons escuros, boné de baseball virado para trás e camiseta do Motorhead, Shadows insiste que naquela noite o risco não valia a pena. As expectativas, para uma banda que estava ansiosa para o festival Download, estavam muito altas. “Não estou nem aí para isso”, ele admite. “Mas se eu vou lá, envergonho a mim mesmo e à banda pois eu não posso me apresentar e então nós temos que cancelar nossa tour europeia, que poderia ser uma péssima sequência de coisas ruins”.

Após ter dado tudo para fazer acontecer junto aos metaleiros de Huntington Beach, com os guitarristas Zacky Vengeance e Synyster Gates, o baixista Johnny Christ, por 18 meses, um show cancelado não será bem o fim do mundo. Desde a morte de seu amigo de longo tempo e bateirista, Jimmy “The Rev” Sullivan, no dia 28 de dezembro de 2009, os quatro que sobraram têm tido muitas coisas pesadas para lidar. E com o sucesso seguinte do quinto álbum Nightmare, o Avenged Sevenfold tem resistido à pior tempestade e agora volta à briga. Aqui, você vê como eles juntaram os cacos, na véspera do retorno ao Reino Unido, no Download.

Kerrang!: Como as coisas têm sido nos últimos 18 meses?
Synyster: A vibe tem sido realmente boa. É diferente, obviamente, a gente ficou sem um dos nossos melhores amigos, mas todo mundo está realmente feliz agora. A gente se sente como se tivesse de volta à cena e focado de novo.
Shadows: As coisas têm sido ótimas. A gente definitivamente nota um grande crescimento na base de fãs. É provavelmente a maior que já tivemos e tem sido muito tocante. Eu também acho que estámos mais próximos do que nunca estivemos antes, pois percebemos o que perdemos. Quando você está numa certa idade, você não pensa sobre a perda de alguém com tanta tristeza e isso muda tudo.
Zacky: Nós não temos nada garantido. Isso nos fez mais resistentes. Nós tivemos sempre uma atitude de ‘dane-se’ tudo e fizemos as coisas do nosso jeito. Mas eu penso que somente agora a gente está pronto para jogar de acordo com nossas regras.
Johnny: Nós temos um débito com o Avenged Sevenfold. Quando decidimos continuar como uma banda, nós nunca esperávamos nada disso, mas tudo intensificou-se ao quadrado. Tem sido muito recompensador, considerando o que tivemos que passar desde então.
Zacky: Há um sentimento geral de alegria, eu penso. É difícil explicar, mas isso dá a sensação de renovação. Não tem drama. É realmente simples: tocamos a música que amamos, para fãs que amam nossa música. Eu vejo o que outras bandas têm e não invejo isso de forma nenhuma. Eu vejo o que temos e sei que é especial, eu sinto mesmo.

Kerrang!: O tempo tem ajudado vocês a lidar com o pesar da morte de Jimmy?
Shadows: É ainda muito pesado. O cara era como parte de nossas vidas, há lembranças diárias, como um espaço que nunca será preenchido. Tudo parece um pouco mais escuro e mais adormecido. Nós perdemos algo de forma total, que não nos será devolvido, então tentamos lidar com isso de uma forma positiva: seguimos tocando nossa música, falando dele e rindo muito, o máximo possível. É muito legal o que o tempo faz a cada dia. Não há um único dia que passa sem que eu não pense sobre o Jimmy, mas agora nós somos gratos pelo tempo que tivemos com ele. A coisa mais estranha é que vejo que cada um de nós adota um gesto seu, ou um jeito de falar, de tocar, então é como se
ele ainda estivesse aqui. Ele é ainda uma grande parte disso.
Synyster: Eu estive bem por um bom tempo, mas o dia em que nós tivemos as edições finais do clipe ‘So Far Away’, eu fiquei balançado. Estávamos todos soluçando, desde os funcionários, técnicos, até nossa família e amigos. Nunca a gente parecerá completo como era antes, mas nós ainda temos de estar na estrada com nossos melhores amigos.
Ainda que estejamos com um a menos.
Johnny: Ainda que eu tenha assistido aquele vídeo uma única vez, eu realmente estava orgulhoso – é um outro passo adiante. Nós amamos aquele cara e ele ainda é uma importante parte de nossas vidas. Alguns dias eu rio, alguns eu choro. Mas nós nunca deixamos o Jimmy ir. Ele é o Avenged Sevenfold.

Kerrang!: Quando o ex-baterista do Dream Theater, Mike Portnoy, veio ajudar a gravar o Nightmare e preencher os shows que se seguiriam, pareceu uma perfeita combinação. Vocês conseguem explicar o motivo de Mike não estar mais na banda?
Zacky: E amo essas pessoas que ainda ficam imaginando o que aconteceu. Eu quero que eles especulem mesmo e é isso o que todos terão de mim sobre esse assunto. Há muitas razões para eu não querer entrar nessa.
Johnny: A história é simples: ele veio, nos ajudou a finalizar as gravações de Jimmy e tocou em alguns shows. Desde o primeiro dia nunca foi dito que seria ‘Avenged Sevenfold feat Mike Portnoy’. Na verdade, nós sequer estávamos pensando em sair em turnê, até que ele, graciosamente, se ofereceu. A gente não tinha pensado sobre isso. Lembro que falamos sobre testes para baterista e acabamos meio que nos estresssando com isso. Era muito cedo ainda. Quando Mike ofereceu sua ajuda, ele era o ideal, mas o acordo sempre foi temporário. A situação do Dream Theater – qualquer que fosse sua divergência – sempre foi algo que dizia respeito apenas ao Mike, nada a ver com a gente. O que aconteceu, aconteceu.
Synyster: Havia muitas razões para que essa ideia não tenha dado certo, tantas que não podemos e não vamos discutir sobre. A razão principal era que Mike não era totalmente compatível. E o Dream Theater estava planejando trazê-lo de volta, assim como nós. Mas Mike pensou que ele iria sair do Dream Theater sem sofrimento e isso deveria
mudar as coisas. Eu acho que ele se preciptou um pouco. Eu queria que ele pudesse ter nos ajudado e então retornar, como planejado, mas não foi assim que as coisas aconteceram. Mas quando reunimos nossos pensamentos, vimos que, afinal, isso não era mesmo o certo.
Zacky: As forças do universo trabalharam contra ele, eu penso. Não foi a mais romântica das situações, mas foi como foi.

Kerrang!: Como vocês se ligaram ao novo baterista Arin Ilejay e como ele chegou?
Zacky: Fizemos um teste. Testamos três pessoas. Demos a eles duas músicas para tocar: uma leve e uma pesada, pois eu não estava interessado em assistir alguém se exibindo. Arin veio de uma recomendação de nosso técnico de bateria, Mike Fasano. Ele pareceu realmente tímido e eu pensei ‘não estou totalmente seguro sobre esse rapaz’.”
Synyster: Nossas primeiras impressões foram: ‘quem é esse estranho?’.
Zacky: Sim, e vocês têm de se lembrar que nenhum de nós gostaríamos de estar no lugar dele. Ensaiar bateristas me fez sentir estranho.
Synyster: Nossos instintos o levavam a fazê-lo ficar ressentido, por nenhuma razão, tipo ‘dane-se esse cara’.
Zacky: Então ele começou a tocar e o garotinho transformou-se em um enfurecido. O carinha tocou pesado e bateu cada nota perfeitamente. Eu sinceramente nunca tinha me sentido daquele jeito desde que tocamos com Jimmy. Imediatamente, todos nós tínhamos sorrisão no rosto.
Shadows: Ele é um cara realmente legal, um grande baterista e sou 100% feliz com sua segurança, postura e atitude. Ele mostrou características incríveis e eu as escolhi de pronto. Desde então, nunca tínhamos tido a chance de ouvir um cara tão incrível assim.

Kerrang!: Como foram os primeiros shows com o Arin atrás da batera?
Shadows: Eu fiquei nervoso por ele. Tentei me colocar no lugar dele, mas cara, eu vi muita coisa acontecer desde aqueles 20 caras em um show, mas ele foi direto ao topo. Eu não consigo me imaginar aos 23 anos, vindo depois de The Rev e Portnoy e tocando para grandes públicos. Mas ele levou fácil. É encorajador, pois, até para nós, há
ainda shows tensos como o Download ou o Rock am Ring. Esses grandes shows podem ser definitivamente momentos únicos no legado de uma banda e é bom saber que ele conseguiu lidar com isso tudo.
Zacky: Para ser jogado dentro do mundo em que a gente estava vivendo, poderia ser uma dificuldade, mesmo para um baterista mais calejado. Então, para alguém que não tinha estado na estrada ou tocado em arenas antes, ele foi realmente impressionante.
Synyster: Nós éramos como uma nave apertada. Não havia espaço dentro dela para erros. Fizemos shows ruins no passado, então, vê-lo lidar com tudo como uma experiência mínima e ainda assim chegar matando, disse muito sobre si.
Zacky: Como tudo, aqui é um passo de cada vez. Se não rolar, ok, daremos um jeito. Nunca ficamos nessa de ter de achar o melhor baterista ou usar ‘o nome’. Não dou o menor valor a isso. Eu prefiro usar alguém que ninguém ouviu sobre ainda. Nós tivemos sorte em achar esse menino. Nós todos nos juntamos a ele e assim é cada vez melhor.

Kerrang!: Vocês estão ansiosos para sobre tocar seu maior show no Reino Unido, junto ao Download?
Zacky: Estamos prontos para quebrar tudo, cara!
Johnny: Vamos chegar com tudo, com certeza. É um grande dia para nós e estamos tratando isso como deve ser tratado. Queremos arrebentar mais dessa vez. Ainda temos muito trabalho para fazer ali.
Synyster: Haverá coisas, pela primeira vez, mas não podemos contar mais que isso. Tivemos um relacionamento realmente romântico e tumultuoso com o Reino Unido, mas os fãs têm sempre estado junto com a gente. Então, é realmente importante que nós demos de volta algumas dessas coisas boas, mesmo que tenhamos que gastar um pouco mais de dinheiro para isso. Também, é mais que uma honra tocar com a elite.
Zacky: Cheiramos os fãs do Reino Unido a milhas e milhas de distância. Estivemos longe por anos, tocando shows medianos, incendiado em muitos outros, agindo como idiotas em entrevistas e ainda assim sobrevivemos, enquanto bandas maiores no Reino Unido desapareceram da face da terra. A gente quer provar de uma vez por todas que a gente não é uma banda de quinta, dando o melhor show e colocando os caras de lá onde eles merecem.

Kerrang!: O que você acha que o futuro reserva para o A7X?
Shadows: Sinto que nosso próximo passo deva ser algo que realmente valha a pena. Tem um monte de músicas boas que não escrevemos ainda e estou pronto para sair da zona de conforto. As próximas gravações determinarão isso. Brian (Synyster) e eu temos escrito juntos desde sempre, mas nós sempre tivemos Jimmy para se juntar a nós, então eu acho que será um processo mais longo ainda. Eu sei que será um trabalho miscroscópíco. Podemos repetir e dizer ‘bem, é isso’ ou podemos dar um passo além e superar isso. Tenho sempre alguém que pensar junto. Não podemos apenas persistir na tragédia que vivenciamos e deixar-nos vencer. Eu tento não bater sempre na mesma tecla. Há muito mais que isso para nós. O que faremos no futuro me deixa animado. Nós devemos isso ao Jimmy e a nossos fãs: fazer algo incrível.

Especial – Conselho de “faça” e “não faça” nos shows do Avenged Sevenfold:
M. Shadows
Faça: Apareça lá pouco antes de tocarmos, então você empurra a turma pra frente na hora certa.
Não faça: Chegar lá cedão e poder ser cantado na frente ou até mesmo ser encoxado quando começarmos a tocar.

Zacky Vengeance
Faça: Beba muito.
Não faça: Comer qualquer coisa.

Synyster Gates
Faça: Beba o máximo que seu corpo aguenta.
Não faça: Beber sem ter um hotel de standby para retornar.

Johnny Christ
Faça: Começar a beber assim que chegar ao lugar. É o que eu faria.
Não faça: Se você é sensível, não comece a beber assim que chegar ao lugar.