Johnny Christ para Bass Player: “Me orgulho do trabalho que fiz no passado e estou amadurecendo a cada álbum”

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(Foto: Adam Bettcher/2010 Rockstar Energy Drink Uproar Festival)

A revista Bass Player publicou a entrevista feita com Johnny Christ em sua edição de dezembro de 2013. No decorrer da conversa, Johnny fala sobre suas composições em Hail To The King e sua evolução na banda. Veja abaixo algumas respostas.

BP: Em alguns momentos o baixo fica em evidência no novo álbum, mas essa claramente não é sua maior prioridade. Muitos de seus colegas concordam que é a medida adequada para um baixista.
JC: Obrigado por dizer isso. Especialmente quando você fala de heavy metal e hard rock, é onde o baixo precisa de tons baixos com groove na maior parte do tempo. Há momentos para mostrar que você pode jogar ou, mais importante, acentuar a parte de uma música. Se tratando de baixo ou de qualquer outro instrumento, eu quero orquestrar partes para que você possa ouvir a música um milhão de vezes, mas sem interferir na música para dizer “eu ainda estou aqui”.

 

No planejamento do A7X, como você faz a marcação de seu som?
No início eu estava indo pelo caminho errado, procurando muitos tons baixos, mais sentindo do que ouvindo. Quando começamos a trabalhar com [o produtor] Mike Elizondo em Nightmare, eu toquei vários Rickenbackers e P-Basses. Esses baixos tem amplitude de gama média e isso realmente ajuda a mantê-lo por trás da música – o baixo combina muito bem com o bumbo e ao mesmo tempo adiciona uma textura muito legal para as guitarras. Assim, amplitude e frequência corretas tornaram-se muito importantes para mim. Neste tipo de configuração as guitarras soam da maneira como os baixos soam. Mas tire o baixo e verá que não vão produzir um som correto. Eu estou procurando a melhor maneira de maximizar o impacto das guitarras.

 

Como sua técnica de tocar mudou com o tempo?
Quando eu comecei no Avenged Sevenfold, alguns dos meus sons de baixo favoritos vinham de Duff McKagan. Ele tocava com uma palheta, então comecei a fazer o mesmo. Em nossos álbuns anteriores, havia um elemento progredindo em nossas músicas e a palheta me deu o tom e a presença que eu procurava. Eu cresci ouvindo Steve Harris e Robert Trujillo [baixistas]. Estar em turnê e ver esses caras tocarem me faz pensar “ok, eu sou uma fraude”. Então eu comecei a desenvolver esse lado do meu jogo. Agora tanto faz tocar com uma palheta ou com os dedos, depende do som que eu quero. Neste disco, “Heretic” é uma canção que parecia querer um baixo obsceno, então eu usei uma palheta para tocar. Eu toco com uma palheta desde que tinha 12 anos de idade, então tem sido uma realização começar a me transformar em um baixista que toca com as mãos. No geral, eu sinto que tocar com meus dedos me dá mais controle sobre as notas. Com meus dedos ou uma palheta, eu gosto de atacar o baixo no mais difícil que eu puder. Sempre amei o som percussivo das cordas desse instrumento quando parece que há algo que está batendo contra uma parede de metal. Ao longo dos anos, tentei diferentes maneiras de chegar lá. É como qualquer outra pessoa: “Eu realmente gosto desse som. Como faço para chegar lá?” Só agora neste disco eu fiquei extremamente feliz com os tons que estava procurando há muito tempo.

 

Por anos você tocou com os baixos StingRay da Ernie Ball Music Man, mas agora você assinou um baixo da Schecter. Como isso aconteceu?
Eu toquei StingRays por anos – eles são ótimos baixos e a empresa foi ótima para mim. Eu só queria mudar as coisas e desenvolver um baixo assinado por mim. Nós conversamos sobre fazer algo juntos, mas eles queriam permanecer fiel ao que estavam fazendo. Mais poder para eles – a marca está aí há um longo tempo e isso obviamente seria trabalhar para eles. Quando eu tocava P-Basses e Rickenbackers em Nightmare, me senti mais próximo do tom que queria alcançar. Queria que a baixa final de percussão de um StingRay ficasse misturado com o clássico tom da P-Bass e o rosnado da Rickenbacker. Por seis meses eu e a Schecter passamos por diferentes combinações de captação antes de finalmente tentar um EMG 81 na posição do pescoço. Quanto tentamos, sabíamos que havíamos encontrado o que procurávamos. Com um botão de pular de um tom para outro, o baixo tem um som muito amplo, de clareza pianística e um rosnar distorcido. Após 60 anos do baixo elétrico, é legal quebrar alguns limites e tentar coisas novas.

 

Em uma entrevista recente, M. Shadows caracterizou o novo álbum como “um álbum do Avenged Sevenfold que remete ao ínicio dos anos 90 e final dos anos 80.” Você concorda com isso quando se trata do baixo?
Sim, absolutamente. Final dos anos 80 e início dos anos 90 incluem Metallica e Pantera, eu cresci com isso. Iron Maiden também. Ouvir Steve Harris no final dos anos 70 e início dos anos 80 é inspirador, pois é uma banda de heavy metal que tem todo o grande trabalho de guitarra, mas também incorpora um baixo incrível. Isso é algo que eu sempre quis fazer. Quando uma música exige isso, eu estou pronto para fazer. Mais uma vez, Rex Brown e Duff McKagan são grandes influências para mim. Cliff Burton é provavelmente o maior. O baixo daquela época era diferente. Sonoramente, essa era da música tinha muita coisa acontecendo; se você entrar em sintonia, pode ouvir o que cada instrumento está fazendo, mas quando você perceber é tudo pesado e moldado perfeitamente junto.

 

Como você compôs suas partes de baixo no Hail To The King?
Desta vez nós estávamos escrevendo todos os dias durante nove meses e não havia tempo para trabalhar especificamente em minhas linhas de baixo; eu estava mais focado em trabalhar nas músicas. Cerca de um mês antes de começarmos a pré-produção foi quando eu comecei a compor linhas de baixo. O tempo todo eu pensava nas combinações e, ao final do dia, queria entrar no estúdio com a cabeça limpa em cada canção e realmente sentir a vibração de como tudo estava – como a bateria está em sintonia com a guitarra e se tudo está certo. Então eu aprimorei o baixo de acordo com isso.

 

Você acha que canções como “Crimson Day” são particularmente desafiadoras?
Quando eu ouvi a demo da música, estava ocupado com outras coisas. Eu pensei que poderia ser legal se tivesse um tipo de balada dos anos 90 e que talvez pudesse acrescentar algumas linhas do estilo clássico de Duff, como ele faria em “November Rain” ou “Don’t Cry”. Quando a música começou a fazer sentido, eu estava tocando algo estranho e, antes que alguém dissesse alguma coisa, percebi que o que eu estava fazendo não daria certo para essa canção. Então apenas deixei isso de lado, ouvi novamente e tentei ser presente na gama sonora e não muito “é o baixo fazendo isso”, apenas ficar por trás. Enquanto a música estava sendo construída, eu sentia como se houvesse um espaço aberto, assim dei uns toques um pouco angelicais.

 

“Heretic” destaca-se pelo seu tom deformado.
Lá nós pegamos pesado no EMG 81. Ele só precisava parecer decadente e sujo. Foi uma combinação de quatro coisas: tocar com uma palheta, realmente fazendo barulho, focar no neck pick-up [captador de pescoço, em tradução livre] e usar o canal de distorção. Cada um era uma sutil mudança em si, mas todos eles juntos trouxeram o valor sonoro que estávamos procurando.

 

Quando conversamos pela última vez, Arin Ilejay tinha acabado de entrar na banda. Fale um pouco sobre sua evolução e como os ritmos ficaram desde então.
Ele se encaixou perfeitamente. Nós evoluímos juntos – em partes do novo disco, por exemplo, eu entendi onde ele queria chegar. Mas, no geral, não houve muita mudança. Ele toca as músicas da maneira que nós supomos que deveria ser e isso torna o trabalho mais fácil para todos.

 

Entre Arin, Mike Portnoy e Jimmy “The Rev” Sullivan, a banda apresentou diferenças. Como cada um deles difere na sua perspectiva em termos de ritmo?
The Rev basicamente me ensinou a ser o que eu sou. Ele foi meu mentor, me ensinou muito e eu aprendi a tocar com ele. Nós alcançamos a sintonia correta uns com os outros ao longo dos anos. Eu ainda toco no estilo que Jimmy me ensinou a tocar.

 

Trabalhar com Mike foi ótimo. Quando nós fomos fazer Nightmare, ele ouviu muito atentamente as demos que Jimmy já tinha gravado e fez um trabalho muito fiel, mas ele pensava um pouco diferente. Jimmy escutou muito funk e jazz e ele foi capaz de aprimorar um pouco mais. Mike era um pouco mais metal e progressivo, mas ele definitivamente tinha tudo para fazer as coisas acontecerem.

 

Arin cresceu tocando na igreja, então ele tinha um padrão gospel. Nós o ensinamos o estilo da banda e ele pegou o tranco. Cada baterista pensa de um jeito, mas Arin pegou o ritmo. Quando estamos tocando ao vivo, pode ser difícil com toda aquela adrenalina colocar isso em uma música que exija. Mas nós temos feito isso por tanto tempo que não demorou para nos entendermos.

 

Quando entrei na banda, eu era o garoto novo e não entendia completamente o aspecto de composição para tocar baixo, eu só queria chegar lá e jogar fraseados e riffs por aí sem me importar se estava ou não fazendo sentido na música. Agora eu tenho uma melhor compreensão do processo de composição e entendo também como trabalhar com uma banda. Eu definitivamente entendi para onde devo orquestrar minhas linhas de baixo em vez de derrubar um monte de riffs. Tal como acontece com outras coisas, quando você pratica frequentemente, eventualmente começa a ficar melhor. Estou orgulhoso do trabalho que fiz no passado, mas sinto que estou amadurecendo a cada álbum, aprimorando minha sincronização no ritmo. Eu adoro tocar, então sempre estou tentando fazer as coisas um pouco melhores.