A edição de julho de 2010 da revista Kerrang! trouxe uma reportagem exclusiva com o Avenged Sevenfold.
Com a chamada de capa como: “Exclusivo! ‘Estamos sob vigilância microscópica’. Avenged Sevenfold, por dentro de seu novo mundo bravo”, os músicos contam como encararam a morte de The Rev. Confira na íntegra.
“Fora das sombras. Com o lançamento do álbum Nightmare, o primeiro álbum desde a morte do Jimmy “The Rev” Sullivan, em dezembro, o Avenged Sevenfold está aos poucos voltando aos negócios. Mas será que os quatro amigos estão prontos para serem analisados microscopicamente em breve?
Em 27 de dezembro de 2009 os integrantes do Avenged Sevenfold estavam em uma recepção de casamento de seu amigo Matt Berry, em um parque de sua cidade, Huntington Beach, na Califórnia. Era um dia engraçado, um dia em família, um dia para muitas risadas e pequenas histórias, abraços carinhosos e cerveja gelada. Matt e seu irmão gêmeo Jason, o cara do merchandising e o técnico de percussão, respectivamente, trouxeram barris de cerveja para seus convidados, e quando o sol desceu e o dia se encerrou, alguém sugeriu encaminhar um barril para a casa de Matt Shadows, a poucos minutos dali, para continuar a festa. O líder da banda educadamente disse não à ideia: ele teria de estar de pé às 6h da manhã do dia seguinte para encarar duas horas de estrada para jogar golfe em Santa Bárbara e embarcar nessa missão de ressaca não seria uma ideia muito inteligente. Essa era a deixa para seus parceiros Synyster Gates, Zacky Vengeance e Johnny Christ pensarem em ir para a cama também, mas o baterista Jimmy “The Rev” Sullivan, sempre a vida e a alma de qualquer festa do A7x, decidiu que estava a fim de mais diversão, e desapareceu na noite com amigos, ‘feliz como uma criança’, como M. Shadows diria.
“Aquela festa deve ter acabado cedo, mas a festa nunca acabava para Jimmy”, o cantor diz. “Jimmy era o tipo de cara que poderia se juntar a qualquer um, a qualquer momento, para o que quer que fosse. Ele estava sempre de acordo: era amigo de todos. Era só um momento de muitos…”
Às 13h da tarde do dia seguinte, enquanto terminava sua rodada de golfe, Shadows recebeu uma ligação dizendo que Jimmy estava morto. Seu melhor amigo tinha apenas 28 anos. No escuro, angustiado, nos dias destruídos que se seguiram, o cantor manteve-se perguntando a si mesmo “E se?”; “E se ele tivesse escancarado a porta para seus amigos naquela noite?”; “E se eles tivessem esvaziado o barril, falando besteiras do tipo ‘Até o sol nascer e colidir em seu chão, como sempre faz’” ?
Seis meses depois do dia em que seu amigo partiu para o descanso eterno, essas perguntas continuavam a martelar na cabeça do cantor: ele sabe que provavelmente essas perguntas sempre seguirão.
“Se o barril tivesse vindo para minha casa, Jimmy não teria estado em sabe-se lá onde, fazer sabe-se lá o que”, ele diz calmamente. “Ele estaria comigo e com todos os nossos amigos e nós teríamos ajudado, caso alguma coisa acontecesse. Mas eu estava muito cansado e então ninguém quis ir para a noitada, fazendo-o sair por si mesmo e fazer suas coisas, sem nenhum de seus amigos verdadeiros e então aquilo aconteceu. Foi simplesmente insano para mim. Insano.”
Hoje, M. Shadows, Synyster, Zacky e Johnny estão em um estúdio de foto descolado, em Newport Beach, 20 minutos dirigindo de suas casas em Huntington Beach, e uma cidade tida como a mais influente dos Estados Unidos, com metade das propriedades que ultrapassam um milhão de dólares. É véspera de aniversário de 29 anos do Synyster (o guitarrista combinou um jantar fora com sua mãe e seu pai, para receber a Kerrang! em um sushi e cervejas mais tarde) e ele e seus parceiros de banda estão em boa forma, trocando ideias do fim de semana do Independence Day de 4 de Julho e zoando com alguma outra história de sobre cortes de cabelo e ganho de peso, como amigos de banda fazem depois de uma sessão de fotos.
Tanto M. Shadows quanto Synyster ostentam uma respeitável aliança de casamento (em 2009 o cantor casou-se com uma amiga de tempos, Valary DiBenedetto, no dia 17 de outubro e o guitarrista casou-se com a irmã gêmea de Valary, Michelle, em maio de 2010) e Matt também está cuidando de um dedão quebrado numa quadra de basquete três semanas atrás.
Matt diz que, desde então, sempre que ele anda à toa pela quadra ao fim de um jogo com amigos, ele é abordado por um estranho oferecendo palavras de conforto pela morte de Jimmy, dizendo a ele que eles realmente conheciam muito bem esse super baterista. Às vezes ele acha demos em sua caixa de entrada de e-mails, acompanhados de cartas informando a ele que já pode parar de buscar pelo “próximo Jimmy” agora mesmo. Na tarde do dia 28 de dezembro, quando notícias sobre a morte de Jimmy circulavam o mundo, o gerente da banda Larry Jacobson recebeu ligações telefônicas de cinco bateristas, todos querendo saber se eles poderiam tentar a vaga na banqueta da bateria. Por incrivelmente insensível e de mau gosto que possa parecer, os membros do Avenged Sevenfold entenderam: eles levaram pelo lado de que algumas pessoas eram tão ignorantes sem limites ao verem sua banda unida e simplesmente vê a banda Avenged Sevenfold como parte do mundo do showbiz, um mundo onde “o show tem de continuar”. Além do mais, com a notável exceção do Led Zeppelin, que dissolveu sua banda em consequência da morte de seu baterista John Bonham em 1980, bandas de rock têm provado notavelmente firmes diante de uma tragédia, como o AC/DC, Def Leopard e Metallica, por exemplo, continuando sem parar depois de perder um membro único.
Um olhar mais apurado de alguém de fora sobre o que está acontecendo hoje no estúdio de foto Voorhees, com o quarteto posando e respondendo perguntas sobre seu novo álbum, em uma sala decorada com quadros autografados de skatistas, modelos e surfistas, leva a concluir que isso é negócio comum para bandas de rock de primeira. Mas para esse grupo de calças apertadas, melhores amigos desde a adolescência, não é e nunca será normal.
Por mais que os quatro sobreviventes membros do Avenged Sevenfold sejam preocupados, tudo o que eles fizerem daqui pra frente será para o amigo deles: Jimmy! Zacky lembra do dia em que seu amigo apareceu com a palavra “Fiction” tatuada cruzando seu externo: quando o guitarrista perguntou a Jimmy porque ele escolheu essa tattoo, o baterista respondeu “por que se todos parassem para ouvir a história da minha vida, eles não iriam acreditar.” A missão da banda agora, ao menos como o Zacky vê, é se assegurar de que o mundo ouça essa história no último volume.
“Um dia antes de morrer, Jimmy citou um pensamento de Winston Churchill, aquela frase famosa onde Churchill foi questionado se a história seria boa com ele, e ele disse ‘Ela será boa para mim, pois eu pretendo escrevê-la’, diz o guitarrista. Jimmy também disse, mas em sotaque inglês, com um cigarro em sua boca. Ele estava certo: ele nos deixou, seus melhores amigos, em quem ele colocou toda sua fé e acreditou neles, para escrever um livro sobre ele. O jeito que ele está descendo em suas histórias é o jeito que temos que contar suas histórias. E pensar que são inacreditáveis.”
“Então, se vamos ser uma banda”, diz Synyster, captando o pensamento de seu amigo facilmente, “e se nós vamos oferecer o legado de Jimmy e contar suas histórias, então teremos de fazer desse jeito: teremos que atender a imprensa, teremos que fazer fotos e teremos que seguir todas as políticas que vêm junto com o ser uma banda.
“Depois da morte de Jimmy, nós estávamos esgotados. Pela primeira vez estávamos esgotados”, ele continua, todos nós apenas nos sentamos e dissemos: “temos que jogar a toalha: sem Jimmy não há Avenged Sevenfold”. Mas quando sentamos para conversar com a família do Jimmy, eles estavam tipo “vocês têm que fazer isso!”. Sua irmã Katie disse: “se fosse um de vocês, o que vocês iriam querer para os outros caras? Vocês têm de seguir adiante. Jimmy deixou um monte de presentes e ele iria querer que vocês fizessem isso por vocês mesmos. E por nós, a família Sullivan, façam isso por ele, por favor.” Ele provavelmente chutaria nossos traseiros em caso contrário.
“Então, agora estamos sendo empurrados por sua família, por nossos amigos, por nossas famílias, pela gravadora, pelo nosso empresário, pela imprensa, todos”, ele adicionou. “Às vezes é um pouco difícil, é um saco. Mas num geral estou feliz por estarmos recebendo incentivos para fazer isso.”
Foi a determinação dos Avenged e o desejo de honrar o legado de seu amigo que impulsionou a banda fragilizada a gravar seu quinto álbum em um momento escuro. A música foi concluída logo depois da banda tirar duas semanas de recesso de Natal: o pedaço final da música para o álbum, uma emocionante balada ao piano, escrita pelo Jimmy e originalmente chamada de “Morte” (mais tarde renomeada “Fiction”, em sua honra), foi completada pelo baterista a apenas três dias de sua morte. O álbum era para ser chamado de Nightmare: pelo tempo, seus criadores vieram para gravá-lo e viram que o título estava incrivelmente de acordo.
O processo de gravação, diz Zacky, foi a coisa mais pesada que a banda já fez. O quarteto ainda estava comovido, traumatizado, frágil, sobrecarregado. Havia lágrimas, desarranjos e acessos de raiva: tinha horas que cada um deles imaginava se conseguiriam aguentar o processo. Mas com a ajuda, amizade e orientação do baterista da banda Dream Theater, Mike Portnoy (o baterista favorito de Jimmy e a única escolha da banda para conseguir replicar os ritmos que ele escreveu para a gravação), eles passaram por isso e lançaram um álbum tão obscuro, emotivo e influenciado quanto qualquer um que você tenha ouvido ao longo do ano e um álbum o qual estão compreensivelmente e imensamente orgulhosos.
“Quando estávamos fazendo o álbum, não queríamos nenhuma fotografia documentando a gravação”, explica Synyster. “Nós não queríamos que os fãs nos vissem felizes, nós não queríamos que os fãs nos vissem tristes, nós não queríamos que ninguém se sentisse apto a julgar-nos quando nós tínhamos que fazer algo que realmente tínhamos que fazer para carregar um legado. Era muita coisa para nós lidarmos. Mas nós finalizamos esse filho da mãe por ele. Fizemos isso por você, Jimmy.”
“Quando sentamos para ouvir o projeto no último dia, sabíamos que tínhamos mudado o mundo para nós mesmos “, Zacky diz com simplicidade. “Quando você ouvir isso, ele fará simplesmente você se arrepiar. ”
Seria errado sugerir que o humor no acampamento do Avenged Sevenfold é atualmente mórbido e sentimental. Há muito para a banda para olhar para a frente agora: de lado de sua estabilidade em suas vidas pessoais, Nightmare parece ter sido escolhido para ser o álbum de maior sucesso para lançar, se a aclamação já premiasse a faixa título, que pode ser lida como um barômetro do que está por vir (a música alcançou Number One no iTunes, na categoria rock, nos dois lados do Atlântico). Mas os quatro jovens músicos admitem que suas emoções ainda estão em carne viva, que eles têm bons e maus dias, e dias em que eles ainda se sentem como imobilizados e deficientes por conta de sua perda. O problema é que não há um período definido de luto, nem um dia em que a dor é programada para ir embora, nem existe data em que é considerado aceitável ou apropriado sorrir e dar risada mais uma vez. Não há um tempo, quando a emoção de todos está em sincronia.
Eles têm sido machucados por uma análise especialmente cruel de Nightmare (um website de música do Reino Unido, friamente se questionou por que a banda não podia apenas levantar e seguir adiante)e machucados por sugestões maliciosas de que o amigo deles Jimmy era um viciado em drogas, rumores que ganharam mais espaço quando o laudo do Orange County Coroner (IML) concluiu que o baterista morreu de efeitos combinados de quatro medicamentos prescritos (Oxycodone, Oxymorphone, Diazepam, Nordiazepam) e álcool.
“Jimmy não era viciado a nada”, dispara Synyster, “ele era viciado na vida. Ele era uma estrela cadente e aquelas que queimam rapidamente.”
Há momentos hoje em dia em que eles chegam com lágrimas enquanto tentam achar as palavras certas para honrar a memória de seu amigo. Hoje, Zacky admite que algo tão mundano quanto olhar o número de telefone de Jimmy salvo em sua lista de contatos pode trazer a realidade brutal da falta de seu amigo batendo em casa novamente. Eles estão todos alertas também que, em uma indústria do cinismo, os eventos do ano passado irão garantir que essa mais provocativa e franca banda estaria sendo monitorada como nunca antes, nos meses que se seguiriam.
“Tudo o que fazemos agora está debaixo de um microscópio”, admite Zacky, “e todo passo que damos é como se andássemos em um campo minado. Todos vão ter uma opinião baseada em cada foto que veem e em cada palavra que leem.
“Mas eu não tenho medo disso”, ele insiste, enquanto contempla o futuro. “Porque nós não vamos colocar essas coisas no show, todo mundo pega essas coisas que saem para conhecer-nos do jeito que somos. As pessoas já me viram em meu pior estado, eu estava tão humilhado quanto um humano poderia estar. Você se sente como se você estivesse no topo do mundo e então você é deixado com nada: você não é mais um rockstar, você é uma concha vazia. E aqueles sentimentos estão documentados no álbum. Pessoas vão saber tudo o que passamos, eles verão nossa sinceridade. E porque todos temos passado pelo pior, todas as pequenas coisas agora (finalizando o álbum, divulgando nosso primeiro single) significa muito mais.”
“Enquanto que antes você poderia tomar merda como retorno, agora eu me sinto merecedor de todo o e qualquer triunfo que temos”, ele continua. “E agora temos milhares e milhares de caras brindando todas as nossas vitórias, o que é um sentimento incrível. Jimmy contribuiu muito para nós e agora nós temos que carregar seu legado em nossos ombros e trazer isso para o mundo inteiro.”
“Estou fazendo de tudo para vermos nossos fãs de novo”, adiciona Synyster. “Temos gasto meses e meses sem exibir qualquer conhecimento sobre nossa situação pessoal e será realmente bom ver nossas pessoas de novo. Estou certo de que haverá jovens chorando na linha de frente, e na segunda fileira, e na quinquagésima fileira, e nós veremos isso, e nós veremos os cartazes que eles segurarão e isso será lindamente especial. Nós sempre colocamos nossos corações e acreditamos nessa conecção com nossos fãs, então eu acho que esse é o próximo passo para nós: ao invés de apenas falar sobre essa situação, nós temos um álbum que podemos sair e tocar para as pessoas e falar com elas e nos comunicar. É algo para o qual eu estou excitado.”
O Avenged começou sua reabilitação diante de seus fãs fiéis no dia 25 de julho de 2010, quando eles tocaram no segundo dia do Festival Heavy Mtl, em uma conta que incluiu Korn, Alexisonfire, Airbourne and Lamb Of God, e eles estavam prontos para juntar-se com velhos amigos no Festival Disturbed and Stone Sour para o Rockstar Energy Drink UPROAR , em agosto e setembro. Eles estavam comprometidos a entrarem em turnê do novo álbum com Mike Portnoy até o fim de 2010, mas despois disso, o futuro deles não estava escrito. Mas agora eles tinham negócios não finalizados, para Jimmy e para qualquer outro.
“No dia que Jimmy morreu, eu pensei que a banda estava acabada”, diz M.Shadows pensativo. “Duas semanas depois que ele morreu, eu ainda achava que a banda tinha acabado. Depois de três semanas, eu estava aberto à ideia de gravar, só para terminar o que começamos com Jimmy. Então você nunca sabe como você vai se sentir um ano ou dois a partir de agora. Nada que decidamos agora irá trazer Jimmy de volta. Então, agora é hora de seguir adiante e fazer o que temos de fazer até o momento em que o veremos outra vez.”
(O novo álbum Nightmare, do Avenged Sevenfold, foi lançado. A tour da banda no Reino Unido em outubro com Stone Sour. Veja nosso Guia Gig para mais detalhes)
QUADRO:
“É como Elton John com efeito de esteroides!”, o líder M.Shadows dá sua opinião sobre Nightmare.
Buried Alive
“Buried Alive é uma das mais estranhas músicas que nós já escrevemos, lembra algo de Stairway to Heaven (Led Zeppelin). São quase sete minutos e tem grandes performances de todos. Nós não estávamos certos sobre isso até que estivesse pronto. Então, quando ouvimos, estávamos tipo ‘Oh, meu Deus, o que fizemos?’. Nosso empresário acredita que esta é a melhor música que já escrevemos.”
God Hate Us
“Esta é, provavelmente, a mais pesada das músicas que já fizemos, uma evolução sobre onde poderíamos chegar depois de Waking The Fallen (álbum de 2003). Estávamos ouvindo Slaughtered do álbum Far Beyond Driven and Going (álbum de 1984 do Pantera) e tivemos que fazer uma música que tivesse essa batida. É tão pesada quando transar.”
Fiction
“Fiction para mim está lá no topo como A Little Piece Of Heaven (do álbum Avenged Sevenfold de 2007). Ela tem a mesma levada, uma vibe de valsa má. Tudo é resumido a um piano, coros e cordas, sem guitarras ou baixo e sem falar nessa letra aterrorizante, letra direta e profunda. Eu não acho que qualquer outra banda metal poderia escrever uma música como essa e nós nunca chegaríamos sem o Jimmy. Se eu acreditasse em Deus, me sentiria abençoado por ter essa música na gravação.”
Save Me
“Save Me é como nossa versão metal para A Little Piece Of Heaven. São 11 minutos e vai para diversos lados. Há uma introdução de duo de guitarras muito legal, um super padrão de bateria escrito por Jimmy e vai dos tons menores para os maiores continuamente. O fim é quase como Elton John com esteroides!”