M. Shadows sobre um disco em 2021: “Nada parecido com o que já fizemos!”

Diferente do que infelizmente ocorreu com muitas bandas e artistas, este 2020 não afetou tanto os planos do Avenged Sevenfold. Os metaleiros de Huntington Beach têm trabalhado muito na sequência do The Stage, mas em uma base bem específica: “É tipo ‘Quando pudermos, poderemos’”, diz o vocalista M. Shadows encolhendo os ombros calmamente à Kerrang!, explicando que não tem porque atropelar processos de um trabalho que já está encaminhado.

Mesmo assim o quinteto não deixou de trabalhar totalmente nesses 12 meses. Eles deram um presente para os fãs como um incentivo para a quarentena, quando o novo Coronavírus chegou e também lançaram um super pacote CD/DVD do Live In The LBC & Diamonds In The Rough pela primeira vez em formato digital com 5 faixas adicionais. Mais importante ainda, no verão, o vocalista se posicionou e mostrou seu apoio para o movimento “Vidas Negras Importam”, escrevendo um texto comovente sobre o que a comunidade do rock e do metal deveria estar fazendo nestes tempos estranhos e difíceis.

Aqui, um Shadows extremamente otimista reflete sobre seu 2020 e dá dicas do que está por vir do A7x quando a hora certa chegar.

Como foi seu ano – você e sua família conseguiram se manter seguros e saudáveis?

“Sim, o ano acredito que foi bom – curti muito mais com a família, com as crianças e com a banda. Alguns de nossos amigos pegaram COVID, alguns mais mal do que outros, mas sem algo tão mais sério ou mortes. As pessoas pegaram, ficaram doentes e em quarentena – acho que algo comum que ocorreu a muita gente, de forma randômica.”

A nível pessoal, como descreveria 2020?

“Foi positivo para mim, ainda que tenha começado perdendo meu ídolo Kobe Bryant, que morreu num acidente de helicóptero de um jeito muito doido. E então veio o Coronavírus e os lockdowns. Mas eu tentei me manter positivo e agradecido dia a dia. Meus filhos não tiveram mais aula e tão insano quanto isso foi tê-la em ligações via Zoom com professores e tudo mais. Ainda assim foi positivo, pois pudemos ter mais momentos juntos. Normalmente se você está na estrada e em hotéis, enquanto seus filhos estão na escola, você não os vê com frequência, então eu estive grato por poder gastar essa parte do ano com eles.”

Ao ser mais pai e homem de família, esse ano te ensinou algo?

“Ensinou – apesar de eu não saber descrever esse aprendizado! Isso tudo realmente me fez grato por ter tempo, mas me fez ver também que os assuntos da banda não poderiam ser tão mais importantes que tudo isso, pois é sobre a família. Ser forçado a estar mais em casa foi realmente bom para todos nós, pois seguir em frente será de um jeito diferente, onde repensaremos nossas turnês, por quanto tempo ficaremos longe e como envolveremos mais a família. Acho que foi muito bom esse tempo para o nosso lado humano colocar prioridades no que realmente importa.”

(Foto: Divulgação)

Como se sentiu sobre a ideia do mundo ter parado da forma que parou?

“Acho que aqui nos Estados Unidos poderíamos ter feito um trabalho melhor. O fato é que se a gente tivesse feito melhor mais cedo, poderíamos estar numa posição melhor agora. É triste, mas há diferentes pontos de vista políticos e diferentes ideologias e para mim é realmente (tudo) sobre ouvir a ciência e fazer o que precisa ser feito: usar máscara e fazer o que é possível a cada um.”

Voltando o início de 2020 havia algum plano específico que precisou ser rasgado?

“Não havia programação! Tínhamos ofertas de coisas que a gente não iria fazer de qualquer forma. A gente apenas não estava nessas vibes. A gente iria trabalhar apenas na gravação e uma vez com as gravações concluídas, iríamos aos shows. Até agora essa gravação não está pronta, então não tem muita coisa rolando em nosso mundo! Estivemos saindo e estamos trabalhando em algo e quando isso tiver finalizado, chamaremos algumas pessoas e diremos: ‘Hey, vamos fazer shows!’.”

Você deixou de lado a obrigação de criar este ano ou foi só uma questão de fazer algo quando se sentir bem para isso?

“Na verdade eu faço algo sempre quando tenho vontade para isso. A gente tem escrito um projeto há algum tempo e grande parte já estava escrito. Mas então a gente meio que tirou uma pausa e seria tipo ‘Hey, vamos nos juntar tipo por 2 dias essa semana’ ao invés de 5 ou 6. Apenas começou a ser mais casual. Então gravamos bem casualmente e, como eu disse, ainda estamos no meio disso: ainda temos muitas etapas que ainda não conseguem ser feitas. Ainda precisamos ter seções de cordas juntas e nosso técnico mixador tem mais idade, é do grupo de risco e eu sei que não querem que ele viaje agora por causa da COVID-19, então mesmo que a gente concluísse a gravação agora, não conseguiríamos ter a mixagem pronta. A questão é que a gente não está focando em se lamentar por isso, sabe? É tipo ‘quando for possível, faremos.’ Mas agora não podemos (risos). “

Você fez uma declaração sobre não querer que o álbum seja lançado sem que seja possível promover uma turnê. Foi uma decisão unânime ou entre você tinha quem acreditasse que valeria acelerar as coisas e ter um álbum enquanto as pessoas estavam todas de casa?

“Não, nenhum de nós queria lançar um disco se não poderia sair em turnê com ele. A realidade é – e ninguém quer ouvir isso – nessa fase e idade, o rock’n’roll leva muito tempo para ser feito: será uma gravação depois de 3 anos para ser feita. E se a gente lança um disco e você está em lockdown por mais um ano, por mais que as pessoas não queiram acreditar nisso, eles não vão dar a mínima para esse trabalho feito um ano antes de rolar a turnê. E então se vai demorar 3 anos para escrevermos um novo álbum, não o faremos se não pudermos tocá-lo ao vivo. Sabemos que a expectativa não será a mesma quando formos fazer a turnê. Você observa isso todo dia – se olhar para iTunes ou Spotify e ver o quão rápido tudo é, vê que tudo passa semana a semana, a cada coisa nova que surge. Se você imaginar sobre lançar um álbum em agosto e você não estiver em turnê até o agosto do outro ano, as pessoas não vão seguir ouvindo isso e não vão se importar com essas questões todas e vão apenas ficar tipo ‘qual o próximo lançamento?’. Uma vez que uma nova gravação do Gojira, do Metallica ou do Megadeth é lançada, as pessoas não se importarão com o que veio no ano anterior. Nosso ponto é: se isso vai nos custar 3 anos para ser gravado, vamos ter certeza que poderemos tocar isso ao vivo e que as pessoas estarão animadas para isso.”

M. Shadows sobre um disco em 2021: “Nada parecido com o que já fizemos!”
(Foto: Divulgação)

Tivemos álbuns muito bons este ano que provavelmente podem ter sido esquecidos rapidamente: como todos estamos fazendo as mesmas coisas todos os dias, então você tende a não absorver tudo completamente e então você simplesmente para para a próxima coisa.

“Totalmente. Temos muitos amigos que lançaram gravações e eles estavam tipo ‘Queremos dar isso aos nossos fãs, pois é uma fase difícil’, mas você tem que pensar isso no sentido de se os fãs não podem ver isso ao vivo e não podem sair para interagir como acreditam que seria ideal, é só uma questão pessoal enquanto banda, penso eu. Há outras razões, mas nós queremos que seja algo que estejamos animados para isso e não queremos estar numa quarentena e então um ano depois dizer ‘Opa, lembra aquela gravação antiga? Vamos tocar!’.”

Você mencionou seções de cordas que ainda não foram gravadas. Isso pode significar que as coisas serão na linha do The Stage e que já existe grandes coisas prontas neste projeto?

“Bem, temos cordas em todos nossos discos, mas a nova gravação não soa nada igual ao The Stage. É um caminho completamente novo e não soa com nada do que já fizemos antes. É tudo que direi sobre isso: é exagerado, muito eclético e selvagem.”

Há algo que você desejaria ter feito ainda este ano?

“Nada para mim, pessoalmente. Eu estava voltando de uma recuperação vocal, então eu estava apto a fazer tudo o que eu quisesse em questão de trabalho e ter esse ano extra foi realmente benéfico. A única coisa que lamento é sobre meus filhos, com esse ano sem escola, férias e esportes. Estou com 39 anos e fiz muita coisa para mim. Então posso curtir um ano em casa, sem me preocupar.”

Então você não aprendeu a fazer pão de banana ou novos conhecimentos como esses?

“Honestamente eu cantei e ainda sigo cantando mais ou menos 6 horas por dia. Canto 2 horas na manhã, 2 à tarde e 2 à noite – então é muito tempo. Eu realmente tentei estar afiado para ter certeza que não estou caindo em maus hábitos e assim proteger minha voz. Isso tem sido importante para mim. E além disso, tenho ouvido podcasts e livros . Não estou aprendendo novos idiomas ou coisas do tipo, mas provavelmente deveria. Agora você me fez me sentir mal (risos). Assim que a quarentena ocorreu eu estava tipo ‘Farei tudo isso e será muito legal!’, mas depois de algumas semanas foi tipo ‘Não! Vou só jogar videogame e relaxar!’.”

Quem foi seu maior herói em 2020?

“Bem. Perdi meu maior herói que era o Kobe, mas acho que LeBron James tem sido muito bom. Eu curto que ele tem sido bem sido bem ativo em causas sociais e ele realmente se profundado em suas causas. E não só isso, mas nós vencemos um campeonato para o Lakers! Mas mais que isso, em um nível social, ele realmente deixou a si mesmo de lado e trouxe à tona suas crenças e isso foi muito bom. E também, pode parecer clichê, mas eu diria que que todos os professores são heróis também – os professores dos meus filhos se adaptaram ao Zoom e estão tentando ensinar as crianças e trazendo essa juventude para algo bom e positivo. Eles são incríveis, pois sei que não é fácil para eles.”

Você deu voz a suas crenças este ano em um artigo sobre “Vidas Negras Importam”. Como foi isso para você?

“Foi bom! Somos muito antagonistas quando estávamos no começo da banda. Sou muito amigo de Fat Mike agora e nós sempre rimos muito disso, mas estávamos tipo mensagem anti NOFX – eles iriam lá e tentariam fazer as crianças votarem e nós estávamos tipo ‘Porque você está tentando fazer com que jovens da Warped Tour votem? Que se dane isso!’. A gente era muito discordante e vemos isso hoje. Ainda temos pessoas na banda com opiniões diferentes, mas eu não poderia sentar e assistir a tudo ir abaixo, ainda mais quando pensavam que nós éramos uma banda de direita. Não somos e isso me deixaria doido e não conseguiria dormir à noite com isso. Muitos dos meus amigos e até familiares são de diferentes raças e vejo como eles são tratados e eu tinha que falar algo. Eu tive permissão da banda e disse: ‘Eu tenho que escrever isso, gente’. E eles foram super ok quanto a isso. Você quer colocar a sua estaca no chão e estar do lado certo da história e para mim era tipo ‘Devemos nos importar sobre isso, pois somos humanos!’. E foi por isso que eu quis colocar tudo para fora. Acho que perdemos muitos seguidores no Instagram naquele dia, o que foi bem engraçado para nós vermos como o mundo realmente é, sabe? Apenas por dizer ‘Vidas Negras Importam’ as pessoas vão cancelar você e isso é hilário. Mas acho que foi interessante sobretudo por me sentir do lado certo da história.”

Indo para 2021 e especialmente depois das eleições do Estados Unidos, você se sente mais esperançoso sobre o futuro?

“Me sinto muito bem! Como planeta ainda temos muito que trabalhar e há muitos debates sobre isso sendo feitos, mas a realidade é que ainda há muito trabalho a ser feito e juntos – desde a globalização, a pobreza e o aquecimento global. São problemas do mundo que temos que trabalhar para melhorar. Me sinto feliz que como país estaremos lá em breve, assim espero. E então veremos o que acontecerá. Temos todos que fazer a nossa parte e os Estados Unidos estão muito divididos agora: não há diálogo com ninguém sobre o que for. Há uma divisão política que é insanidade. Tipo ‘Você está usando uma máscara? Você é gado’, ‘Você está fazendo isso? Então você é aquilo outro!’. Isso é louco. São tempos difíceis, com certeza, mas conseguimos enfrentar juntos. Me sinto bem, sou uma pessoa esperançosa, eu acho.”

(Foto: Divulgação)