Arquivo A7X: M. Shadows fala sobre Homofobia, Metal, Religião e mais para Kerrang

Ano da publicação: 2006
Vinculação:
Revista Kerrang
Matéria por:
Paul Travers
Foto da matéria:
Paul Harries

Deus do Metal. Caipira. Homofóbico. M Shadows já foi chamado de tudo isso e mais. Agora, o líder do Avenged Sevenfold, revida.

“Hey Syn, me pegaram fazendo pornô gay aqui.” O guitarrista do Avenged Sevenfold, Synyster Gates, olha para cima e sorri, enquanto seu vocalista tira sua camiseta e revela um impressionante físico super tatuado para a câmera. Estamos em um porão do Rock City em Nottingham e está frio o bastante para endurecer qualquer mamilo mais bem vestido, mas M. Shadows – Matt para os amigos, Mathew Sanders para o Governo – faz sua parte sem reclamar.

Com a foto finalizada, ele dá uma volta e oferece um aperto de mão firme e um sorriso fácil. A imagem de vocalista e a primeira impressão deve ser de um loucão que tem mais músculos do que cérebro, mas na real, ele é articulado e amigável. Você pode não concordar com tudo o que ele diz, mas ele coloca seu ponto de vista com charme e um bom vocabulário e hoje ele parece pronto, mas ansioso para chegar e quebrar alguns mitos.

HÁ MUITAS REFÊNCIAS BÍBLIAS RODEANDO O AVENGED SEVENFOLD – ATÉ QUE PONTO A RELIGÃO ESTEVE PRESENTE AO LONGO DE SUA VIDA?
“Em grande parte dela, pois meus pais queriam que eu fosse para uma escola particular. Escolas particulares eram, na maioria, religiosas na Califórnia, então eu fui para uma escola católica chamada St. Bonaventure, onde a religião era ensinada como um fato incontestável. Hoje eu não tenho mais uma visão rígida disso, mas na época sim. ‘Isso são baboseiras, odeio tudo isso. Que se danem eles, vou ouvir Slayer e aquele cara que rabiscou Slayer em seu braço é muito legal. Danem-se todos – Deus sequer existe.’

Era tipo um assunto delicado, então decidimos fazer dele o nome de nossa banda. Achamos engraçado mexer um pouco com isso. Por isso fizemos tudo. Eu acredito em Deus, sim. Acredito que haja uma força maior. Eu sempre acredito ter uma relação bem próxima com um ser mais elevado – Deus –  e eu falo com eles todas as noites, antes de eu ir aos palcos, para me ajudar a me apresentar da melhor maneira possível.”

VOCÊ TEVE PROBLEMAS DE CONTROLAR SUA RAIVA QUANDO ERA MAIS JOVEM – VOCÊ TEM CONTROLE SOBRE ISSO AGORA?
“Algumas pessoas achavam que eu tinha problemas em controlar minha raiva, por eu ter entrado em lutas no Ensino Médio. Eu fui mandado embora de casa – não por culpa dos meus pais, mas porque eu era muito difícil de lidar. Isso é uma coisa estranha agora, pois alguém poderia chegar e me dar um soco na cara que eu nem me importaria. Na maior parte do tempo eu penso comigo mesmo sobre ser uma pessoa legal e falar na boa com qualquer um. Eu não vou sair por aí como um ‘destruidor ou psícopata ou ‘doidão’, pois eu não sou!”

O AVENGED SEVENFOLD PREVINIU VOCÊ DE ACABAR ACORDANDO EM UM ALGUM LUGAR ESTRANHO, NO VELHO ESTILO DE “MORTE, CADEIA E ROCK ‘N ROLL”?
“Eu acho que a banda me salvou de diversas maneiras. Um monte dos meus maus momentos aconteceu quando nós estávamos começando a Avenged Sevenfold – entenda ‘maus momentos’ como sempre ser pego pela polícia e ir para a cadeia por algumas noites ou ser expulso de casa e não ter qualquer lugar para ficar. Se você segue sendo pego pela polícia muitas vezes, com certeza uma hora eles segurarão você lá – isso aconteceu com um monte de amigos. Uma vez que você entra nesse sistema, você faz alguma coisa e pega dois anos de cadeia. Tenho sorte de não ter terminado desse jeito.“

COMO UM AMERICANO SEMPRE EM TURNÊ PELO MUNDO, VOCÊ SE SENTE MEIO QUE ANDANDO CONSTANTEMENTE NA DEFENSIVA?
“Eu acho que a mídia ao redor do mundo está sempre caindo em cima da América, mas uma coisa que eu digo é que todos que eu encontrei em diferentes países têm sido muito legais para nós como banda. Nós nem temos uma bandeira americana no set – tipo o Iron Maiden, vindo com a bandeira britânica. Não é grande coisa, mas no mundo cotidiano, eu me sinto meio que na defensiva, mas aí eu penso em como isso chega aos fãs e como eles interagem com a gente, eles são sempre muito legais e estão felizes por estarmos lá.”

ENTÃO QUAL O FOCO UTILIZADO POR VOCÊ AO VESTIR A CAMISETA “Love it or die” (“AME OU MORRA” com imagem do “Tio Sam” personalizada)?
“Fizemos aquela camiseta para o Warped Tour, porque tudo o que nós poderíamos ver no Warped Tour eram bandas anti-América, anti-Bush e isso era como uma modinha. Era como se caso você não fosse como eles, não pertenceriam à Warped Tour. Então viemos ao evento e estávamos tipo ‘caras, vamos fazer no estilo “Ame isso ou Morra”, com uma bandeira americana e não dar audiência ao resto!’. Quando fomos para fora e fizemos aquelas camisetas, era para fazer um momento com a garotada, para mostrá-las que nós ainda acreditamos na América e amamos nosso país. Assim, vemos que há dois pontos de vista para tudo. Não é apenas sobre ter um lado formado sobre a questão, mas nosso ponto de vista esteve a ponto de mostrar para as outras bandas que a gente não se importa com o que eles pensam de nós. Não é ‘Ame a América ou Deixe-a’  e sim ‘Viemos mostrar do que somos feitos’.”

QUANTO DO MAT SANDERS VOCÊ ACHA QUE NÓS CONHECEMOS?
“Não muito. Estou na banda por mais de sete anos e tenho namorado a mesma menina por 12. Não uso drogas, não fumo. Não fumo, mas eu bebo e fico um pouco fora do controle e é por isso que os caras dizem que eu sou o cara mais louco da banda. Pessoas acham que nós não damos a mínima, mas eu gasto oito horas por dia, sete dias da semana escrevendo música. Nós realmente não nos importamos sobre o que as pessoas acham sobre nós, mas se alguém escreve algo de nós que nos ferra ou é de conteúdo estranho, aí sim nos preocupamos!

VOCÊ ACHA ESTRANHO QUE AS PESSOAS ESTEJAM INTERESSADAS EM SUAS OPINIÕES EM QUESTÕES POLÍTICAS?
“Não acho isso estranho, porque sou igual a qualquer um e se eu visse um artigo do Metallica ou Guns ‘N Roses eu lerei também. A diferença é que eu não baseio minha vida no que eles dizem,  e eu acho que as pessoas fazem isso. Quando Phil (Anselmo) diz algo, eu discordo. Eu acredito que muita gente lê algo e segue, ‘Eu odeio a banda agora, você me desapontou’. Em outra entrevista eles perguntaram sobre gays. Eu respondi às perguntas normalmente, aí eles me intitulam como homofóbico. Eu não falei nada sobre odiar gays – apenas disse certas coisas que sinto sobre casamentos homoafetivos. Isso virou para um lado onde eu virei homofóbico de repente. Eu não acho que falei algo tão sério assim. Somos uma banda de metal, nós não vamos dizer coisas politicamente corretas. Vamos falar do que realmente sentimos. Nós diremos o que sentimos.